O jovem
William Blake disse um dia a sua amada “Veja o mundo num grão de areia, veja o
céu em um campo florido, guarde o infinito na palma da mão, e a eternidade em
uma hora de vida!”.
Eu,
parafraseando o mestre da poesia digo: Veja o mundo em um olhar apaixonado, não
o diminua, aprofunde-o e liberte-o, pois como uma flor a mão murcha e morre, um
pássaro na gaiola entristece e definha, um amor controlado desiste da
eternidade.
Veja o céu em um sorriso infantil, criança
carente de ego, pecado e malícia, pois assim como o homem é filho da natureza,
a criança é o embrião da divindade.
Guarde o
infinito na memória porque ele é como a alma, não deve ficar por muito tempo
preso a um corpo finito e mortal, os dois são como o tempo que, maleável e
escorregadio, nos inebria uns segundos para perpetuamente nos abastecer.
A eternidade
pode ser vista em um milésimo de segundo em que duas almas se encontram em um
olhar, dois lábios anseiam por um tocar e dois corpos se entregam em um amar. A
eternidade é relativa, há amizades de dias que valem por anos de conhecimentos,
há livros lidos que marcam uma vida inteira,
há palavras ferinas que sangram uma alma por anos.
O grão de
areia mostra a eternidade do mar. Um campo florido denuncia o viço, beleza e constância
do ciclo da natureza. A palma da mão marca os traços das linhas da humanidade e
podem produzir o doce afago ou a mais traiçoeira violência. Uma hora de vida
pode ser pouco para o fôlego dos amantes, mas pode ser uma eternidade para quem
está morrendo sem fôlego.
DUCI MEDEIROS