domingo, 24 de agosto de 2014

PARÁFRASE A BLAKE



O jovem William Blake disse um dia a sua amada “Veja o mundo num grão de areia, veja o céu em um campo florido, guarde o infinito na palma da mão, e a eternidade em uma hora de vida!”.
Eu, parafraseando o mestre da poesia digo: Veja o mundo em um olhar apaixonado, não o diminua, aprofunde-o e liberte-o, pois como uma flor a mão murcha e morre, um pássaro na gaiola entristece e definha, um amor controlado desiste da eternidade.
 Veja o céu em um sorriso infantil, criança carente de ego, pecado e malícia, pois assim como o homem é filho da natureza, a criança é o embrião da divindade.
Guarde o infinito na memória porque ele é como a alma, não deve ficar por muito tempo preso a um corpo finito e mortal, os dois são como o tempo que, maleável e escorregadio, nos inebria uns segundos para perpetuamente nos abastecer.
A eternidade pode ser vista em um milésimo de segundo em que duas almas se encontram em um olhar, dois lábios anseiam por um tocar e dois corpos se entregam em um amar. A eternidade é relativa, há amizades de dias que valem por anos de conhecimentos, há livros lidos que marcam uma vida inteira,  há palavras ferinas que sangram uma alma por anos.
O grão de areia mostra a eternidade do mar. Um campo florido denuncia o viço, beleza e constância do ciclo da natureza. A palma da mão marca os traços das linhas da humanidade e podem produzir o doce afago ou a mais traiçoeira violência. Uma hora de vida pode ser pouco para o fôlego dos amantes, mas pode ser uma eternidade para quem está morrendo sem fôlego.
DUCI MEDEIROS

sábado, 9 de agosto de 2014

TEMPO

O passado é mal criado
Teima em ficar presente
Nos incomoda com suas lembranças
Dores e saudades.

O futuro é escorregadio
Teima em nos escapar
Nos deixa a ver navios, quando não se realiza
E exige demais de nosso presente.

O presente é irreal
Teima em desfocar
Nos foge quando sentimos o passado
E escapa ao olharmos o futuro.

O tempo é relativo
Minutos parecem eternidade
Anos fogem como segundos
Nos inquieta, pois só sentimos falta quando se foi.

DUCI MEDEIROS