quarta-feira, 31 de julho de 2013

PERDAS



Perder... O que nos resta depois de uma perda?
Perdemos um pouco do corpo, da alma...
O vazio parece um buraco negro
Que nos consome e diminui.
Perdemos mais do que o que se foi
Perdemos a referência de completude
E a harmonia sobre o que ficou.
Somos parte do que nos acontece
Então também somos tudo aquilo que perdemos
No decorrer do tempo de vida.

Olhamos para dentro e verificamos
Um conjunto de pequenos vazios
Forjados pelo sólido sofrimento do que ficou.
Entre ganhos e perdas, vamos nos formando
Aceitando vazios e preenchendo significados
Emendando partes do que nos resta.
Ouvindo o silêncio da ausência
Percebemos o eco da dor,
Sintonizamos os sons do que somos
Para entendermos os porquês.

Mas as respostas não existem
Elas nada significam ante o todo,
A saudade e a verdade partida do que ficou.
Quem sou?
O que ficou?
A ausência do que perdi?
Ou sou a desarmonia composta
Pelos silêncios e  ecos da existência.

DUCI MEDEIROS

sábado, 20 de julho de 2013

DESPERTAR DA FINITUDE

Quando a aurora surge no horizonte
Faz a escuridão da noite morrer suavemente.
Quando a consciência se aproxima
Faz a nebulosa inconsciência se esconder levemente.
Quando a amizade se faz presente
Faz a negra solidão se afastar ternamente.
Quando o amor de um parceiro se apresenta
Faz a realidade colorir-se incandescente.
Quando a afeição inestimável de um parente se mostra
Faz a alma exalar um perfume extasiante.
Quando conseguimos fazer o que queremos com prazer e sem culpa
Faz o corpo emanar uma energia de satisfação iluminante.
Quando a realidade de um sonho acontece
Faz corpo e alma regozijarem em sintonia concomitante.
Produzindo sons harmonizantes.
Emanando aromas contagiantes.
Iluminando recantos recônditos com suas cores extravagantes.
Todos estes momentos de especial finitude
Fazem com que o mais ébrio dos homens
Tome consciência da centelha divina em seus seres
Acorde para a real existência
E desperte para as possibilidades ilimitadas da vida.

DUCI MEDEIROS

sábado, 13 de julho de 2013

CLARICE E EU




Ainda na alfabetização da escrita, apaixonei-me por Clarice
Não apenas por seus textos, mas por sua visceral necessidade de escrever
Sua paixão pelo silêncio e sua intimidade com as palavras.

Clarice ordena: “renda-se, como eu me rendi”
Eu luto com a vida em uma guerrilha contínua
Fazemos uso de várias armas e estivemos em vários lados
Fomos adversárias, parceiras, comandadas e comandantes.

Clarice pede: “mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei”
Eu respiro o desconhecido, sou sua amante insaciável,
Ele me alimenta e me anula em uma espiral de sensações.
Mergulho em seus labirintos a fim de me encontrar.

Clarice avisa: “Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer  entendimento”
Eu sei que nunca vou entender
Porque não busco respostas, aprendo a perguntar.
E neste abandono ao não saber eu aprendo e ensino a procurar.

Ainda soletrando a poesia, odiei a narrativa de Clarice
Não apenas sua incompletude, mas sua virginal complexidade.
Seu amor pelos sentidos e sua proximidade com minha alma.

DUCI MEDEIROS

terça-feira, 9 de julho de 2013

ORAR

"Quem fala menos, ouve melhor. 
E quem ouve melhor, aprende mais".
Não deixe de orar nunca.
Mesmo quando você não ouvir a voz de Deus, 
Ele ainda ouve sua voz.
Fale com o coração 
Mesmo que vc pense que ninguém escuta,
Ele te escuta,
Nós é que não conseguimos ouvir sua voz,
Ver seu sorriso ou entender suas ações. 
Aguarde que a lagarta da dor, 
Se transforme na borboleta da felicidade, 
O cacto do escuro 
Se transforme na flor da fé,
Mas tudo no tempo de Deus,
Que é bem diferente do nosso.
DUCI MEDEIROS

sexta-feira, 5 de julho de 2013

A MENINA MARIA



Ao amanhecer o dia, vestiu-se de lua, penteou as madeixas dos pensamentos, abriu o sorriso esperado pelo mundo e abandonou o silencio de sua alma para seguir pelo sussurro do mundo. A menina conhecia o silêncio, conhecera-o desde a mais tenra infância. Não um silêncio entre as palavras dos adultos, mas um silêncio pela ausência de diálogo. Conhecera também o silêncio por entre o barulho da multidão de adultos, este era o mais solitário, porque diante da multidão quem era ela? tão pequena e insignificante que não era alvo de nenhum sussurro. A menina sai para mais um dia nas ruas da cidade, nas ladeiras do conhecimento e nos íngremes espaços entre os adolescentes de mentes vazias e corpos cheios de hormônios.
Qual a identidade desta menina? A quem interessa um nome, um rosto, uma herança se o que ela é hoje é menos que a sombra de nada. Mas para chegar a ser nada deve ter sido algo antes e então... Vamos a desfolhar a estória desta menina. Mas porque fui esquecer o H e não falei: História desta menina? Simples! Porque é apenas uma ficção, um causo e não vou discorrer sobre fatos ocorridos ao longo do tempo que interesse a humanidade. Seu nome veio do Hebraico, significa senhora, soberana. Logo que aprendeu a ler e navegar pela internet ela descobriu o significado, embora não pareça muito com o que ela vê no espelho da vida. Ela nunca foi soberana, sempre foi insignificante, mas sempre pareceu uma senhora, velha no silêncio e no abandono. Os dicionários dizem que seu nome indica serenidade, força vital e vontade de viver, mas ela parece estar sempre no último sopro de vida, sem muitos motivos para prosseguir. Eles dizem ainda que as Marias, por vezes, são forçadas a pedir auxílio para a resolução dos muitos problemas que têm de enfrentar na vida e para aguentar a dor. Isto parece sim com ela, mesmo que infelizmente a ajuda não tenha vindo e ela tenha ficado apenas no pedido e perdido a chance de agradecer o pouco que recebeu da vida.
Bem! Um nome já temos, vamos ao rosto que se reflete todo dia ao espelho, este parece muito diferente do que as pessoas descrevem. Muitos dizem que seus olhos brilham como o mel sob o sol poente e seus cabelos parecem a crina de um cavalo de corrida não muito bem cuidada. Seu corpo é descrito como forte e proporcional, mas parece uma forma educada de dizer que é gorda, no entanto as pessoas são muito pouco educadas com as Marias em geral e com esta menina menos ainda. Então o que podemos dizer de seu corpo é que tem mais carne do que ossos e que é proporcional a força que ela ganhou durante a vida de trabalho pesado. O estranho é que o espelho lhe mostra algo diferente, pois ela sempre se vê uma senhora enrugada pelo tempo e pela dor, onde os olhos parecem saber mais do que devem e o rosto possui mais cicatrizes do que deveria haver em um rosto humano. Seu corpo parece com uma árvore velha que amontoou galhos jovens em seu tronco envelhecido a fim de manter a seiva da vida.
A menina Maria, segue sua vida entre as páginas envelhecidas dos livros, as modernas páginas dos computadores e os inquietos pensamentos dos jovens estudantes. Não posso chamá-la de professora porque ela considera que pouco sabe, acredito que ela aceitaria ser chamada de guia, sim é isso, ela é uma guia do conhecimento, mostra aos jovens onde pode encontrar um pouco de sabedoria e orienta-os a descobrir que conhecimento é como o vento, não conseguimos vê-lo, medi-lo, mas faz uma falta danada quando bate aquela necessidade de um pouco de ar fresco da sabedoria de uma resposta e o silêncio se faz na mente e na alma.
DUCI MEDEIROS

quinta-feira, 4 de julho de 2013

SOLIDÃO

Acredito que se sente só aquele que não consegue dialogar com os muitos eus.
Ouvir as múltiplas vozes da consciência.
Falar ao espelho da verdade e ao reflexo das sombras do passado.

Acredito que se sente  só aquele que não consegue dialogar com a natureza
Ouvir as vozes dos pássaros, o vento sobre as águas do mar ou folhas de árvores
Falar aos duendes, fadas e anjos que nos cercam.

Acredito que se sente só aquele que não consegue dialogar com o tempo
Ouvir o passado marcado em nosso presente
Falar carinhosamente ao futuro que brota sob o sol de suas ações
A sombra das omissões e aos reflexos multifacetados das ilusões.

Acredito que se sente só aquele que não consegue dialogar com o Criador
Em suas várias faces e nomes refletidos na natureza imaculada e nas maculadas religiões.
Ouvir sua voz em todo o esplendor da criação
Falar na oração da alma ou canção de louvor.


Duci Medeiros