sábado, 24 de agosto de 2013

ALTAR PARTICULAR



Nosso altar particular, onde ordenamos as cartas do jogo de nossa vida, onde guardamos os sentimentos mais íntimos, as emoções que erguemos sobre as lágrimas derramadas e onde somos o protagonista dos sonhos e derrotas é formado pelo tempo e cercado por um muro de proteção.
Neste altar guardamos verdades doloridas, mentiras sobre nossos erros e acertos ditas ao longo da vida, dor pelas perdas, lembranças de momentos felizes, um teto de cristal que nos protege e uma casca ilusória de controle emocional.
Em volta deste altar erguemos um muro, que como tantos outros muros que construímos em volta de nós, possui dois lados: a falsa proteção e o verdadeiro isolamento da alma.
Os muros que erguemos em volta de nós criam uma casca protetora que dificulta que sejamos magoadas e decepcionadas, mas também impedem que os anjos que andam pela terra cheguem perto de nós para abrir as asas para nos proteger do verdadeiro inimigo: nosso medo e estranheza diante do outro, da vida, de nós mesmo.
Precisamos olhar estes muros em volta de nosso altar particular e aprender a abrir uma janela para que os familiares possam nos fornecer carinho, os amigos nos mostrarem afetuosamente nossas falhas e que os desconhecidos de alma iluminada possam nos indicar o caminho a seguir, pois qualquer um pode emprestar o corpo para um anjo tocar nossa alma.
DUCI MEDEIROS

A ARTE DE PERDER



Hoje eu percebi que não é tão difícil dominar a arte de perder, pois pela estrada da vida perdemos tantas coisas que acabamos aprendendo a sermos mestre nesta arte.
Na infância, perdemos horas de sono com medo das sombras embaixo da cama e nos desfazemos de horas lúdicas sentadas em cadeiras na escola. Esquecemos de contar o tempo ao sorrir diante das horas perdidas nas pequenas descobertas, aparentemente insignificantes.
Na pré-adolescência encontramos ante o espelho horas infindáveis “perdidas” em busca de seios, pelos e silhuetas, mas o que verificamos são espinhas, membros desconexos e rostos desconhecidos.
Que surpresa! A adolescência chega, e logo encontramos sorrisos e lágrimas nos dias perdidos a espera do telefonema, do olhar, do sorriso e do beijo certo.
A juventude dá lugar ao indivíduo com muitas decisões a serem tomadas e o que surgem são semanas perdidas em busca da resposta concreta em forma de oportunidades que a vida teima em não nos oferecer.
E logo surge a fase adulta e as decisões, erradas ou certas, nos voltam como consequências delineadas em bebês comendo nosso tempo, exigências universitárias que consomem nossas horas e anos de conhecimentos que não refletem quem somos e, por conseguinte surgem momentos de labuta que nos devoram os melhores anos da vida e nos dão ganhos materiais que não conseguimos utilizar por falta de tempo.
O tempo do descanso surge, parece que agora vamos aproveitar tanta coisa nas horas que nos restam. A intenção de ter uma vida completamente vivenciada é perdida pela observação do passado e de tantas perdas durante o caminho.
Perder... parece ser um hábito que se cicatriza em nossa carne e vai aos poucos marcando a alma de sombras do que não foi. O que não preenche espaços entre o que é.
Percebo que perdi alguma coisa todo dia. Aceito as chaves das fechaduras dos baús que guardam as coisas que não foram. Não consigo abrir estes baús porque perdi as conexões do tempo, perdi o encaixe das realizações, perdi o click do sopro da vida.
Aprender a arte de perder não é nada comparado a aceitar o que não foi vivido. Exercitar esta arte é encontrar nos vazios os lugares dos sorrisos. Encontrar as lágrimas não derramadas ante os soluços vividos. Encontrar os arco-íris sem nenhuma chuva.
É tão difícil dominar a arte de perder que a imaginação, peça de toda literatura, é perdida dentre as palavras que se esvaem nas lacunas do que não foi. Apesar de não parecer, perder é mais fácil para o homem comum, que não viaja pela fantasia das palavras, pelos sortilégios da imaginação e pela metáfora nua, despida da palavra que a concretiza... escrever é um desastre. Perder é uma bênção.
DUCI MEDEIROS

domingo, 11 de agosto de 2013

ESPELHO

Agradeço a jovem Marília Manuella por estas doces palavras.

"Me olho no espelho
E um pensamento aparece,
A imagem de uma criança se reflete.
E me deleito nas imagens de minha mente.
Volto a ter 7 anos de idade de repente.

Me lembro dos tempos passados:
Corro por entre a vegetação,
Brinco de ser gente grande
E uso pensamentos como ponte para o coração.

Vivo cada dia com sua importância
Vivo aquilo que todos chamam de infância
Apenas me preocupo em ser feliz,
Com um enorme desejo de ser dona do meu nariz.

Volto dessa viagem
Vejo o tempo que perdi
Vejo o quanto fui feliz.
Hoje passo parte do tempo revivendo o passado.
Trazendo de volta tudo que pensei ter acabado.

Chego a conclusão:
Não me arrependo do que fiz,
Pois tudo o que quiz
Foi tentar ser feliz."

Marília Manuella

ACEITE-ME COMO SOU

ACEITE-ME COMO SOU...
LOUCA, BRUXA, POETA...
AMIGA DOS AMIGOS
FAÇO QUASE TUDO POR QUEM AMO
FAÇO MAIS AINDA CONTRA QUEM FAZ MAL A QUEM AMO.

ACEITE-ME COMO SOU...
MÃE, AMIGA, MULHER...
AMO INTENSAMENTE
SOU QUASE TUDO POR QUEM AMO
NÃO DEIXO DE SER QUEM SOU
POR MAIS QUE AME.

ACEITE-ME COMO SOU...
FORTE, FIRME, SEGURA...
SOU FORTALEZA PARA AJUDAR
A FIRMEZA NAS DECISÕES
E SEGURA NOS SENTIMENTOS VERDADEIROS.

ACEITE-ME COMO SOU...
MENINA, ADOLESCENTE E MULHER...
A MENINA MOLECA E ETERNA CURIOSA.
ADOLESCENTE SENSUAL E BRINCALHONA.
MULHER DECIDIDA, INDEPENDENTE E SONHADORA.

ACEITE-ME COMO SOU...
ENQUANTO EU BUSCAR ESTA PESSOA...
ENCONTRANDO-A A TODO INSTANTE
DESFAZENDO-ME DOS NÃO EU
VOCÊ, COMO EU, DEVE ACEITAR-ME COMO SOU.
DUCI MEDEIROS

PAI

PAI
NÃO TEVE O VENTRE PREENCHIDO PELA SEMENTE DA VIDA
NÃO RECEBEU MANUAL JUNTO AO REBENTO.
MAS OUVIU CHOROS E DENGOS
APRENDEU COM TENTATIVAS E ERROS.

O AMOR LHES CONDUZIU
OS PASSOS INCERTOS,
MAS GUIADOS PELA SABEDORIA
DO AFETO INCONDICIONAL.

PELAS ESTRADAS DA VIDA
MUITAS VEZES CONFUNDIRAM
QUEM ERAM; PAIS OU HERÓIS
ESQUECERAM QUE PAI É UM HERÓI DO COTIDIANO.

NOS CAMINHOS TRÔPEGOS DO FILHO
ESTÃO TAMBÉM OS DO PAI.
NOS PASSOS REBELDES E EGÓICOS DELE
ESTÃO MARCADAS TAMBÉM SUAS PERDAS.

SABEM QUE A INDEPENDÊNCIA DO FILHO
COINCIDE COM SUA PARTIDA
COMO AS DORES DELES
DEIXAM CICATRIZES E SENSAÇÃO DE INCAPACIDADE.

SER PAI É MAIS DO QUE SER COLO
AMOR E ENSINAMENTO.
SER PAI É DOAÇÃO E PERDA
ALEGRIA E DOR.
DUCI MEDEIROS

sábado, 3 de agosto de 2013

E o corpo...Morre.



Sofro... Vejo o vazio que sobrou em meu ventre
Foi-se toda antiga alegria e glória do nascer
Abandona-me a certeza da vida
Aproxima-se a dor da morte.
Que fazer, para ser depositório de vida?
E não corpo da morte?
Amei... Cada instante de dúvida e temor
Todo pedacinho de incerteza
Mas tive a cruel confirmação da incompletude
A coroa de espinhos da vítima
Ou o receptáculo de desdém dos injustiçados.
Solidifica-se a dor pela perda
E a dor da culpa pelas possibilidades perdidas.
Apenas viver o vazio
Escrever sobre a perda
Não preenchem o corpo
Não restauram a alma.
Padeço! Que fazer para encontrar algo de bom?"
Perdoar-me? culpar o destino?
Aprender com a experiência?
Aceitar o inevitável?
Nada?
Perdoei... A mim mesma, mais uma vez.
Conheço muito sobre o perdão e a prece,
Tive a oportunidade de encontrar a piedade
A dor de não ser quem eu queria ou precisava ser
O medo do pecado cometido e justificado pelo amor.
Que fazer  para o consolo?"
Esquecer, perdoar... e continuar...
Mas lembro... Em dor, sangue e fel
O coração me escorre
A alma encolhe
E o corpo... Morre.
DUCI MEDEIROS

CONSTRUIR PÉROLAS

Estou tentando construir minhas pérolas e você?

“Uma ostra que não foi ferida não produz pérolas"... Pérolas são produtos da dor; resultados da entrada de uma substância estranha ou indesejável no interior da ostra, como um parasita ou um grão de areia. As pérolas são feridas curadas. Na parte interna da concha é encontrada uma substância lustrosa chamada nácar. Quando um grão de areia a penetra, as células do nácar começam a trabalhar e cobrem o grão de areia com camadas e mais camadas, para proteger o corpo indefeso da ostra. Como resultado, uma linda pérola vai se formando. Uma ostra que não foi ferida, de algum modo, não produz pérolas, pois a pérola é uma ferida cicatrizada... Você já se sentiu ferido pelas palavras rudes de alguém? Já foi acusado de ter dito coisas que não disse? Suas idéias já foram rejeitadas, ou mal interpretadas? Você já sofreu os duros golpes do preconceito? Já recebeu o troco da indiferença? Então produza uma pérola! Cubra suas mágoas com várias camadas de amor. Infelizmente, são poucas as pessoas que se interessam por esse tipo de movimento. A maioria aprende apenas a cultivar ressentimentos, deixando as feridas abertas, alimentando-as com vários tipos de sentimentos pequenos e, portanto, não permitindo que cicatrizem. Assim, na prática, o que vemos são muitas "Ostras Vazias”, não porque não tenham sido feridas, mas, porque não souberam perdoar, compreender e transformar a dor em amor. Um sorriso, um olhar, um gesto, na maioria das vezes, fala mais que mil palavras... E você? Tem pérolas?"
autor desconhecido