domingo, 4 de maio de 2014

CAMINHAR PELO ENTARDECER

         Sempre gostei muito de caminhar, traz a sensação de que, aos olhos da mente, o corpo sempre segue para frente. Sinto como se minha paixão em olhar para o passado fosse equivocada. O coração acelera, mas sem inquietar a pulsação ou cansar o pulmão, dá-me o doce sabor de estar viva. Pela disciplina das passadas a mente acaba conduzindo-se para outro lugar, sem a necessidade de estar aqui, sinto a liberdade de viajar.
      O entardecer, embora seja uma passagem, doce e colorida transição entre dois momentos. Guia-me à noite estrelada e ao surgimento da lua e ainda permite-me vislumbrar o colorido do céu ao se despedir do sol. Este momento mágico permite que eu perceba o aqui e o agora, transição entre o passado que muito me ensinou e a promessa de um futuro guiado pela escuridão da incerteza e pelas luzes do conhecimento adquirido.
      Caminhar pelo entardecer é viver entre dois mundos: a inércia e o movimento;  a luz e a escuridão. É a tomada da consciência do ser, intensamente ser, enquanto o tempo e o corpo deixam de ser para estar sendo. O esquecimento, a falta de consciência corporal, abre espaço para uma consciência espiritual.
        Enquanto caminho pelo entardecer, despeço-me da luz do passado e encontro o conhecimento de estar sendo em um mundo em que me vê apenas pelo que sou, pelo breve momento que consigo transmitir um lance da luz que habita meu ser. Nós somos como o entardecer, instantes de dois mundos, duas promessas em meio a realização comum. Somos um todo em formação, enquanto o mundo percebe apenas a luz passageira.
        Enquanto me despeço da luz, os passos disciplinados me levam a escuridão do futuro. Hoje digo adeus ao passado de quem fui para renascer um novo indivíduo que se refaz ao anoitecer para se reencontrar no amanhecer de uma nova vida.

DUCI MEDEIROS

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