Ao amanhecer o
dia, vestiu-se de lua, penteou as madeixas dos pensamentos, abriu o sorriso
esperado pelo mundo e abandonou o silencio de sua alma para seguir pelo
sussurro do mundo. A menina conhecia o silêncio, conhecera-o desde a mais tenra
infância. Não um silêncio entre as palavras dos adultos, mas um silêncio pela
ausência de diálogo. Conhecera também o silêncio por entre o barulho da
multidão de adultos, este era o mais solitário, porque diante da multidão quem
era ela? tão pequena e insignificante que não era alvo de nenhum sussurro. A
menina sai para mais um dia nas ruas da cidade, nas ladeiras do conhecimento e
nos íngremes espaços entre os adolescentes de mentes vazias e corpos cheios de
hormônios.
Qual a
identidade desta menina? A quem interessa um nome, um rosto, uma herança se o
que ela é hoje é menos que a sombra de nada. Mas para chegar a ser nada deve
ter sido algo antes e então... Vamos a desfolhar a estória desta menina. Mas
porque fui esquecer o H e não falei: História desta menina? Simples! Porque é
apenas uma ficção, um causo e não vou discorrer sobre fatos ocorridos ao longo
do tempo que interesse a humanidade. Seu nome veio do Hebraico, significa
senhora, soberana. Logo que aprendeu a ler e navegar pela internet ela descobriu
o significado, embora não pareça muito com o que ela vê no espelho da vida. Ela
nunca foi soberana, sempre foi insignificante, mas sempre pareceu uma senhora,
velha no silêncio e no abandono. Os dicionários dizem que seu nome indica
serenidade, força vital e vontade de viver, mas ela parece estar sempre no
último sopro de vida, sem muitos motivos para prosseguir. Eles dizem ainda que
as Marias, por vezes, são forçadas a pedir auxílio para a resolução dos muitos
problemas que têm de enfrentar na vida e para aguentar a dor. Isto parece sim
com ela, mesmo que infelizmente a ajuda não tenha vindo e ela tenha ficado
apenas no pedido e perdido a chance de agradecer o pouco que recebeu da vida.
Bem! Um nome
já temos, vamos ao rosto que se reflete todo dia ao espelho, este parece muito
diferente do que as pessoas descrevem. Muitos dizem que seus olhos brilham como
o mel sob o sol poente e seus cabelos parecem a crina de um cavalo de corrida
não muito bem cuidada. Seu corpo é descrito como forte e proporcional, mas
parece uma forma educada de dizer que é gorda, no entanto as pessoas são muito pouco
educadas com as Marias em geral e com esta menina menos ainda. Então o que
podemos dizer de seu corpo é que tem mais carne do que ossos e que é
proporcional a força que ela ganhou durante a vida de trabalho pesado. O estranho
é que o espelho lhe mostra algo diferente, pois ela sempre se vê uma senhora
enrugada pelo tempo e pela dor, onde os olhos parecem saber mais do que devem e
o rosto possui mais cicatrizes do que deveria haver em um rosto humano. Seu
corpo parece com uma árvore velha que amontoou galhos jovens em seu tronco envelhecido
a fim de manter a seiva da vida.
A menina
Maria, segue sua vida entre as páginas envelhecidas dos livros, as modernas
páginas dos computadores e os inquietos pensamentos dos jovens estudantes. Não
posso chamá-la de professora porque ela considera que pouco sabe, acredito que
ela aceitaria ser chamada de guia, sim é isso, ela é uma guia do conhecimento,
mostra aos jovens onde pode encontrar um pouco de sabedoria e orienta-os a
descobrir que conhecimento é como o vento, não conseguimos vê-lo, medi-lo, mas
faz uma falta danada quando bate aquela necessidade de um pouco de ar fresco da
sabedoria de uma resposta e o silêncio se faz na mente e na alma.
DUCI MEDEIROS
É um auto retrato da alma. A imagem de alguém que, consciente da importância da sua missão no mundo, preocupa-se apenas em executá-la com seriedade. Aparenta não sentir necessidade de sobressair-se, de brilhar (pelo menos não o demonstra), mas, se a tem ( o que não a desmereceria, pela humana condição), por um motivo qualquer não admite para si mesma. Não tem alegria, ao contrário, o desengano é evidente (talvez seja apenas indiferença frente às ilusões do mundo, por conhecer-lhes o caráter enganador) ___ não sei se característico da alma ou de um momento em especial. Em alguns trechos, de forma explícita atribui-se expressões depreciativas, como: "...tão pequena e insignificante que não era alvo de nenhum sussurro" ou "...nunca foi soberana, sempre foi insignificante..." ou "...as pessoas são muito pouco educadas com as Marias...e com esta menina menos ainda". Noutros, a vida parece pesar-lhe. Definitivamente a tristeza lhe sobressai, expondo-se, quase como um pedido de socorro.
ResponderExcluirGostei ainda mais do texto a partir do segundo parágrafo (o primeiro caracteriza-se pela total abstração), de mais fácil compreensão, quando se unem conceitos reais e abstratos.
Apesar de não ser a pessoa mais otimista do mundo, comovi-me com a menina do texto, que despertou em mim uma vontade de abraçá-la, de dividir com ela o que me conforta. Escreva mais. Bjs.