segunda-feira, 16 de junho de 2014

PASSAGEM

         Durante nossa vida nós morremos muitas vezes... Matamos a célula para nos tornarmos zigoto, matamos as partes para sermos um inteiro, e deixamos de ser parte da mãe para sermos sozinhos.
         Durante a infância vários são os momentos que morremos para nascermos mais fortes e inteiros. Nos sentimos parte de uma família que se rompe ao irmos para a escola. Na escola matamos vários indivíduos dentro de nós a fim de sermos parte dos amigos. Para nossa individualidade existir, deixamos de ser muitas vezes, abandonamos partes nossas pelo caminho.
      Junto com as mortes e os abandonos de nossas partes pelo caminho da infância, vai se acumulando um lixo emocional que empurramos para o fundo da alma e vamos prosseguindo nossa caminhada.
          A adolescência chega, vamos aos tropeços perdendo a voz, a face e as referências. Novos sonhos vão chegando junto com hormônios e desejos de aceitação. Vamos mais uma vez matando as brincadeiras e alegrias da infância para aprendermos a abandonar meninices que queríamos tanto preservar. Mais uma vez vamos acumulando emoções e (re)sentimentos sem entendê-los, aceitá-los nem vivenciá-los com serenidade. Mais mortes, pulamos de grupo em grupo, procurando por nós mesmos nos rostos (gostos) dos outros. Abandonamos partes nossa tentando sermos aceitos pelos grupos que nem sabemos por que queremos fazer parte deles.
             Depois de muitas espinhas, hormônios, lágrimas e mortes de novos sonhos, vamos para a próxima fase. E agora? onde trabalhar? fazer família? fazer o quê da vida? matamos muitas escolhas possíveis em busca de coisas impossíveis, inúteis e, na maioria das vezes, que nem queremos realmente. 
             E nesta jornada de mortes e nascimentos, vamos fazendo nosso caminho, cheio de passos incertos, buscas de afeto verdadeiro e encontros conosco mesmo. Vamos matando todo dia parte do que não somos, muito do que queríamos ser e mais ainda do que nunca poderemos ser. 
               Nesta caminhada, temos que matar também muitos lixos emocionais que vamos guardando desde muito tempo, sentimentos que nos fazem mal, emoções que nos fazem chorar com a alma e coisas que não valem a pena guardar, deixemos que se vão, que escorram pelas lágrimas das dores vizinhas, abandonemos junto com os pensamentos dos outros que guardamos pensando que são nossos. Matemos tudo isto, abandonemos pelo caminho a fim de abrir espaço para renovação e nascimentos.
               Não há felicidade no fim da estrada, o que acontece são sorrisos pelo caminho, alegrias que nascem de repente, que plantamos em um irmão e que nos contagia. Felicidade é como o amor, ela cresce quanto mais doamos, plantamos no outro, fazemos surgir em terrenos inférteis e como por encanto ela frutifica em nós.
               O que podemos matar hoje para abrir espaço para o novo? que emoção vamos abandonar para limpar o terreno da alma para um novo sentimento? Quantas sementes de alegria e amor podemos plantar nos irmãos e amigos para espalhar o amor e a felicidade? 

DUCI MEDEIROS

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