Esta
manhã, antes do alvorecer, saí a varanda para admirar o céu colorido e vasto e
disse à minha alma: Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer
que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos? E minha alma respondeu:
Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho.
É
assim que me sinto a cada descoberta, como se estivesse dentro de um buraco
negro que me consome e esvazia a cada preenchimento de saber. Como bem disse
Sócrates “Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem
sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa”. Mas por que será que não me
sinto com vantagem alguma, pois parece que quem nada sabe é mais leve, menos
compromissado com a vida, suavemente ignorante das consequências dos atos e
pensamentos.
Quem
disse que o descontentamento é o primeiro passo para a evolução de um homem não
sabe o que estava dizendo, pois vivo descontente com o que sei, com o que vivo
e sempre em busca de algo mais e sinto-me como se a evolução estivesse a anos
luz de mim.
Quando
eu era jovem pensava que o conhecimento era a coisa mais importante do mundo,
hoje estou particularmente propensa a achar que a ignorância é que é a coisa
mais importante do mundo, pois faz com que a criança ignore o perigo e siga a
intuição em busca do desconhecido, esqueça a realidade e busque as respostas
para as pequenas perguntas e, principalmente despreze as verdades professadas e
procure descobrir os pequenos mistérios do mundo (que na verdade são as maiores
e mais complexas verdades, pois a sabedoria vive na simplicidade).
Lembro
de ir trabalhar porque a abelha atarefada não tem tempo para a tristeza, sigo
aos afazeres cotidianos e esqueço os mistérios da alma, pois sinto que se eu
persistir na louca busca das verdades posso tornar-me sensata e viver só da
matéria. Mas sei que não seria capaz de esquecer os mistérios da vida, as
agruras da busca espiritual e as conquistas dos pequenos erros, pois eles são
os portais das grandes descobertas.
Alvorecer,
tu fizeste que eu confessasse os pavores que tenho, mas vou dizer-te
calidamente que não me apavoras, não tenho medo de estar sozinha, de esquecer o
caminho, nem de lembrar somente dos erros, pois não tenho medo de cometer erros,
um erro é uma alegria que nos precipita no abismo da aprendizagem sobre nós
mesmos.
Quem
não souber povoar a sua solidão com a imaginação não pode ser chamado de poeta,
pois só é solitário o homem que não tem coragem de conhecer seus múltiplos eus.
DUCI
MEDEIROS
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