segunda-feira, 9 de setembro de 2013

CONTRADIGO A MIM MESMA PORQUE SOU VASTA



Esta manhã, antes do alvorecer, saí a varanda para admirar o céu colorido e vasto e disse à minha alma: Quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos? E minha alma respondeu: Não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho.
É assim que me sinto a cada descoberta, como se estivesse dentro de um buraco negro que me consome e esvazia a cada preenchimento de saber. Como bem disse Sócrates “Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa”. Mas por que será que não me sinto com vantagem alguma, pois parece que quem nada sabe é mais leve, menos compromissado com a vida, suavemente ignorante das consequências dos atos e pensamentos.
Quem disse que o descontentamento é o primeiro passo para a evolução de um homem não sabe o que estava dizendo, pois vivo descontente com o que sei, com o que vivo e sempre em busca de algo mais e sinto-me como se a evolução estivesse a anos luz de mim.
Quando eu era jovem pensava que o conhecimento era a coisa mais importante do mundo, hoje estou particularmente propensa a achar que a ignorância é que é a coisa mais importante do mundo, pois faz com que a criança ignore o perigo e siga a intuição em busca do desconhecido, esqueça a realidade e busque as respostas para as pequenas perguntas e, principalmente despreze as verdades professadas e procure descobrir os pequenos mistérios do mundo (que na verdade são as maiores e mais complexas verdades, pois a sabedoria vive na simplicidade).
Lembro de ir trabalhar porque a abelha atarefada não tem tempo para a tristeza, sigo aos afazeres cotidianos e esqueço os mistérios da alma, pois sinto que se eu persistir na louca busca das verdades posso tornar-me sensata e viver só da matéria. Mas sei que não seria capaz de esquecer os mistérios da vida, as agruras da busca espiritual e as conquistas dos pequenos erros, pois eles são os portais das grandes descobertas.
Alvorecer, tu fizeste que eu confessasse os pavores que tenho, mas vou dizer-te calidamente que não me apavoras, não tenho medo de estar sozinha, de esquecer o caminho, nem de lembrar somente dos erros, pois não tenho medo de cometer erros, um erro é uma alegria que nos precipita no abismo da aprendizagem sobre nós mesmos.
Quem não souber povoar a sua solidão com a imaginação não pode ser chamado de poeta, pois só é solitário o homem que não tem coragem de conhecer seus múltiplos eus.
DUCI MEDEIROS

Nenhum comentário:

Postar um comentário

AMIGOS, ABRI ESPAÇO PARA O COMENTÁRIO DE VOCÊS AOS MEUS TEXTOS, FIQUEM A VONTADE PARA LER E COMENTAR. BEIJINHOS ANGELICAIS.