Pelas
horas da madrugada, quando o silêncio do vento toca a escuridão dos pensamentos
venho encontrar uma inquieta e persistente ideia. Ideia esta que implica em se
aprofundar e chafurdar em busca de argumentos
e justificativas para sua existência.
Você me indaga qual ideia é esta que se agiganta dentro de meu ser
impedindo-me de trabalhar em meus textos pela madrugada adentro como de
costume. Entre as palavras do direito tributário da tese de doutorado que
reviso e as pesquisas sobre a cultura italiana a respeito da linguística textual
para a tradução do artigo científico, surge e agita-se em minha mente a ideia de
esculpir meu destino em forma de escolhas diferentes.
Desde
minha tenra infância e adolescência venho investindo nas escolhas do estudo e
do trabalho honesto e muitas foram as conquistas que estas escolhas foram
trazendo para o meu cotidiano e das pessoas que me cercam. No entanto, sinto
que algumas delas fazem com que eu seja cercada pelo trabalho solitário diante
do computador e das páginas dos livros. Preciso esculpir meu destino por
escolhas que tragam braços e sorrisos pelas minhas madrugadas.
O
questionamento é sobre minha necessidade de ser solitária, de trabalhar e
estudar. De ser tão independente que invariavelmente afasto as pessoas do meu
convívio. A quem interessaria saber que afasto aqueles que amo, que sei que
podem conviver com pessoas menos compromissadas com sua jornada particular,
mais abertas às frivolidades da vida, ao risco dos afetos simplórios do
cotidiano.
Cresci entre a labuta e os estudos e por vezes
neguei a mim mesma as palhaçadas e infantilidades próprias da infância e aos
tropeços e brincadeiras da juventude. Somos o que fazemos o tempo todo e nossas
escolhas acabam por esculpir o nosso destino. Preciso esculpir um destino mais
leve como o vento, suave como as pétalas das flores silvestres. Preciso aceitar
o teu carinho como a areia da praia aceita entregue, a doce carícia das águas
do mar.
Há
um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, aquelas que se ajustam
perfeitamente ao nosso corpo, que nos levam confiantes onde sabemos que devemos
ir. Devemos abandonar nossos caminhos confiáveis e nos aventurar pelo desconhecido, tanto
por emoções inusitadas da aceitação da dependência do outro quanto à aceitação
da confiança nos sentimentos alheios. É o tempo da travessia, de largar a
estrada confiante da solidão e independência para a margem incerta de
compartilhar os momentos e a vida com alguém? Mas resisto em ousar fazê-lo, tenho
ficado à margem de mim mesma.
“O diabo desta vida é que entre cem caminhos
temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove”.
Como devo esculpir meu destino? devo aceitar compartilhá-lo com você ou seguir
pela estrada segura e confiante de minha solidão?
DUCI MEDEIROS
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