sábado, 24 de agosto de 2013

A ARTE DE PERDER



Hoje eu percebi que não é tão difícil dominar a arte de perder, pois pela estrada da vida perdemos tantas coisas que acabamos aprendendo a sermos mestre nesta arte.
Na infância, perdemos horas de sono com medo das sombras embaixo da cama e nos desfazemos de horas lúdicas sentadas em cadeiras na escola. Esquecemos de contar o tempo ao sorrir diante das horas perdidas nas pequenas descobertas, aparentemente insignificantes.
Na pré-adolescência encontramos ante o espelho horas infindáveis “perdidas” em busca de seios, pelos e silhuetas, mas o que verificamos são espinhas, membros desconexos e rostos desconhecidos.
Que surpresa! A adolescência chega, e logo encontramos sorrisos e lágrimas nos dias perdidos a espera do telefonema, do olhar, do sorriso e do beijo certo.
A juventude dá lugar ao indivíduo com muitas decisões a serem tomadas e o que surgem são semanas perdidas em busca da resposta concreta em forma de oportunidades que a vida teima em não nos oferecer.
E logo surge a fase adulta e as decisões, erradas ou certas, nos voltam como consequências delineadas em bebês comendo nosso tempo, exigências universitárias que consomem nossas horas e anos de conhecimentos que não refletem quem somos e, por conseguinte surgem momentos de labuta que nos devoram os melhores anos da vida e nos dão ganhos materiais que não conseguimos utilizar por falta de tempo.
O tempo do descanso surge, parece que agora vamos aproveitar tanta coisa nas horas que nos restam. A intenção de ter uma vida completamente vivenciada é perdida pela observação do passado e de tantas perdas durante o caminho.
Perder... parece ser um hábito que se cicatriza em nossa carne e vai aos poucos marcando a alma de sombras do que não foi. O que não preenche espaços entre o que é.
Percebo que perdi alguma coisa todo dia. Aceito as chaves das fechaduras dos baús que guardam as coisas que não foram. Não consigo abrir estes baús porque perdi as conexões do tempo, perdi o encaixe das realizações, perdi o click do sopro da vida.
Aprender a arte de perder não é nada comparado a aceitar o que não foi vivido. Exercitar esta arte é encontrar nos vazios os lugares dos sorrisos. Encontrar as lágrimas não derramadas ante os soluços vividos. Encontrar os arco-íris sem nenhuma chuva.
É tão difícil dominar a arte de perder que a imaginação, peça de toda literatura, é perdida dentre as palavras que se esvaem nas lacunas do que não foi. Apesar de não parecer, perder é mais fácil para o homem comum, que não viaja pela fantasia das palavras, pelos sortilégios da imaginação e pela metáfora nua, despida da palavra que a concretiza... escrever é um desastre. Perder é uma bênção.
DUCI MEDEIROS

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